segunda-feira, 2 de maio de 2011

Flamengo 0 (3) x (1) 0 Vasco - Três taças, nenhuma derrota e um Carioca inesquecível

Havia aquele nervosismo. Sempre há aquele nervosismo. Afinal, o Flamengo é o Flamengo. Já o Vasco, é o Vasco. Nosso freguês, o vice. A responsabilidade era nossa. Se perdessemos éramos nós que acabávamos, em um jogo, com dez anos de vitórias em jogos decisivos em cima do cruzmaltino. E eram eles que acabavam, em um jogo, com dez anos de derrotas em jogos decisivos contra o rubro-negro.
Animado, assisti ao início do jogo truncado, mas logo já estava rezando para o juiz Luis Antônio Silva Santos apitar o fim do primeiro tempo.
O Flamengo estava desorganizado. O Vasco contrastava, dando uma aula de posicionamento.
Aos nove, David deu um péssimo passe de cabeça visando Rodrigo Alvim. A bola passou por cima do lateral-esquerdo e sobrou para Fellipe Bastos. O volante matou no peito e, de longe, acertou um bom chute. Pegou a bola no alto e despachou forte, de peito de pé. Quase encobriu o goleiro. Gelei.
Aos vinte, Rafael Galhardo chegou pela direita e mandou por cima do gol adversário. O menino é bom de bola, tem um bom passe, visão de jogo, craque, mas sentiu um pouco a partida. Acabou errando coisas bobas, que acertaria normalmente.
Dois minutos depois, Ronaldinho cobrou falta da esquerda. Em um cruzamento quase perfeito, Thiago Neves tentou de cabeça, mas perdeu o tempo de bola e acabou funcionando como um zagueiro vascaíno, desviando e tirando qualquer chance de David, que vinha sozinho logo atrás, marcar.
Com 27 da primeira etapa, a grande chance do Flamengo surgiu. A jogada começou nos pés do maestro. Ronaldinho recebeu e esperou a marcação chegar. Vieram três. O camisa 10 ensaiou uma finta, mas acabou tocando para Thiago Neves mais a frente, que prendeu a bola esperando alguém se movimentar. Ronaldinho se prontificou e apareceu para receber quase na quina da grande área. Novamente, ensaiou uma finta e tocou para o lado. O jogador era Deivid. O criticado atacante recebeu, girou e deu um belo passe, entre dois, para Bottinelli, na medida. O “Pollo” bateu de primeira, forte, mas chutou no meio. Fernando Prass, demonstrando reflexo, espalmou, para, logo depois, Dedé afastar. Fantástica jogada de grupo tramada pelo quarteto ofensivo do Fla. Se Bottinelli tivesse caprichado mais na finalização, com certeza, toda e qualquer crítica ao ataque rubro-negro cessaria na hora.
Mas como isso não aconteceu, o jogo seguiu 0 a 0.
O Vasco era mais organizado. Tentava bastante de fora da área, enquanto o Flamengo pecava na saída de bola. Um lance que ilustra bem isso saiu aos 29 minutos. Thiago Neves recebeu do goleiro Felipe, mas, em seguida, foi desarmado, no campo defensivo. Na esquerda, Felipe, do Vasco, recebeu e chutou cruzado, de fora da área. A bola tirou tinta da trave.
Aos 34, Felipe saiu do gol no soco e girou o ombro. Logicamente, sentiu, para susto dos rubro-negros. Mas, graças a Deus, não passou de um susto. Felipe continuou na partida, mesmo com certa dor, e viu Ronaldinho tocar entre as pernas do Felipe adversário, dar um balão no mesmo e arriscar de fora da área, batendo cruzado. O lance passou perto e serviu para acordar a torcida rubro-negra no Engenhão, que, até então, dormia.
O segundo tempo começou assim como terminou o primeiro: sem grandes emoções. Bottinelli cresceu na partida e começou a realizar boas jogadas. Em uma delas, sofreu uma falta perto da área, perigosa. O argentino pediu para bater, mas Ronaldinho chamou a responsabilidade. Os torcedores rubro-negros na arquibancada se esticavam todos, em busca de um ângulo perfeito para conferir um possível gol do título do Campeonato Carioca de 2011, mais uma vez sobre o maior rival, o Vasco. Mas não foi isso que aconteceu. Fernando Prass deu um pulo assustador e espalmou para fora, em mais uma defesa espetacular. As duas torcidas se animaram. Bottinelli estava começando a se soltar na partida, o Flamengo começava a burlar a disciplina tática da equipe do Ricardo Gomes. Quando Luxemburgo tirou o Pollo para colocar Fierro.
Naquele momento, juro, achei que o título estava perdido.
O Thiago Neves estava mal, Ronaldinho estava cansado, o Willians, recuado, Renato, desaparecido, agora, sem o Bottinelli, quem iria ditar o ritmo no meio-campo?! O Fierro?! E não me venha com essa de que o Fierro entrou na partida para ajudar na direita do setor defensivo. Se quisesse isso, era mais fácil colocar o Fernando mesmo, que é infinitamente melhor que o tal do “Pistolero” e é, de fato, um jogador defensivo.
Dessa vez, Luxemburgo me ouviu e o colocou no lugar de Rafael Galhardo minutos depois.
No Vasco, Bernardo entrou no lugar de Diego Souza. O menino tem estrela. Logo que entrou, acertou um belo chute, que, se não fosse pela grande defesa do goleiro Felipe, teria entrado na gaveta.
Aos 46 minutos, ainda houve duas expulsões: Allan, do Vasco, e Willians, do Flamengo, que discutiram após uma falta do rubro-negro.
E, finalmente, para alívio da torcida, Índio, como é conhecido o árbitro que apitou a partida no Engenhão, encerrou o jogo. A Taça Rio seria decidida nos penaltys.
O Flamengo só apareceu na final graças à vitória sobre o Fluminense nas penalidades. E, de brinde, ainda levou o grande Sobrenatural de Almeida. Sobrenatural, para quem não sabe, é um personagem fictício (ou não) criado por Nelson Rodrigues, que era culpado por todos os fatos bizarros do futebol, e, principalmente, do Fluminense. Mas, nessa final, ou melhor, nessa disputa de penaltys, Sobrenatural de Almeida torceu pelo Flamengo. Deve ter chegado um pouco atrasado no estádio: Alecsandro abriu o marcador.
Já bem instalado ao lado de Renato Abreu, concedeu ao meia o prazer de marcar o primeiro gol do Flamengo. Depois, foi se posicionar ao lado esquerdo do goleiro Felipe. Na cobrança, espalmou a bola para cima. Bernardo isolou.
Na cobrança de Fierro, com certeza, pensou: “Ah, isso está muito fácil. Está precisando de uma emoçãozinha”. Resultado: bola por cima do chileno.
A partir daí, foi fácil. Com sua soberania sobrenatural natural, Sobrenatural de Almeida colocou para fora os chutes de Fellipe Bastos e Elton e, para dentro, os de Fernando e Thiago Neves.
Missão cumprida, Sobrenatural voltou para seu lugar, a mente e a imaginação de amantes do futebol brasileiro, saudosos dos anos dourados do esporte bretão, quando lendas futebolísticas eram cultivadas e passadas de pai para filho, de avô para neto, e não perdidas pelo tempo. Já eu, como bom rubro-negro, fui comemorar mais um título sobre o Vasco, nosso freguês, nosso vice.
Nosso eterno vice.



Postado por Rafael Balla
@Rafael_Balla
rafa_bala@rocketmail.com

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